Trezor volta atrás e desiste de pedir KYC polêmico aos seus usuários

Na quinta-feira (27), a carteira de hardware Trezor chocou seus usuários ao propor implementar medidas de identificação de cliente (KYC) em seus endereços de Bitcoin (BTC). Dessa forma, todos os endereços gerados pela carteira poderiam ser associados ao seu dono.

O plano de implementação foi descrito pela empresa em sua conta no Twitter. Contudo, a repercussão negativa do anúncio fez vários usuários se revoltarem, o que levou a Trezor a cancelar a atualização

KYC polêmico

A Trezor utilizou uma ferramenta chamada Protocolo de Prova de Propriedade de Endereço (AOPP, na sigla em inglês). Este protocolo foi lançado junto com a última atualização do software da Trezor Wallet, liberada na quinta-feira.

Na prática, o AOPP é um uma maneira de assinar uma mensagem provando a propriedade de um endereço de retirada. Ou seja, o usuário que quisesse sacar seus BTC deveria provar que era dono daquele endereço.

Só que nos moldes do KYC, essa prova pode ser qualquer coisa, desde um endereço de e-mail até documentos pessoais. Assim, a atualização permitiria que os endereços gerados pelas carteiras pudessem ser associados a quaisquer dados de seus donos.

Como justificativa para a medida, a Trezor disse que a implementação visava dar ao usuário maior controle sobre seus BTC. Além disso, o processo serviria para diminuir o poder do governo sobre os dados das pessoas.

“Não apoiar o AOPP levará a ajudar o governo a cerca de pessoas em intercâmbios, e nossa motivação para adicionar apoio direto foi exatamente para manter o governo de fazê-lo”.

A própria Trezor chegou a dizer que os usuários já compartilhavam esses dados com as exchanges, que, por sua vez, eram obrigadas a repassá-los ao governo, o que significa que o AOPP poderia ter acesso a dados similares dos donos das carteiras.

Repercussão negativa faz Trezor recuar

De acordo com a Trezor, o AOPP permitiria que os usuários tivessem maior controle sobre suas criptomoedas, sobretudo o Bitcoin (BTC). Mas o mecanismo também destruiria o último bastião de privacidade que as pessoas ainda possuem.

Por causa do seu caráter pseudônimo, as transações de BTC são facilmente rastreadas. Serviços como Chainalysis e o próprio KYC das exchanges já consegue identificar parcialmente as transações. Logo, as carteiras de hardware são um dos poucos meios que permitem um pouco de privacidade.

Isso porque a maioria desses dispositivos permite a geração de endereços diferentes a cada transação, dificultando o rastreio das operações. Com um KYC, no entanto, cada endereço estaria conectado à identidade do usuário, reduzindo a privacidade.

Nesse sentido, as carteiras de hardware perderiam uma de suas maiores vantagens sobre as exchanges, como mencionou um usuário da Trezor. Em sua crítica, ele afirmou:

“Não há nenhum sentido em obter Bitcoins fora das exchanges se você não puder ter soberania e privacidade com suas moedas. Eu comprei alguns de seus produtos para dar a novos bitcoiners. Nunca mais farei isso, a menos que vocês revertam essa decisão”, afirmou.

E nesta sexta-feira (28), a Trezor sentiu a repercussão negativa e finalmente voltou atrás, removendo o AOPP. No anúncio, a empresa disse que vai fornecer um guia para que os usuários possam verificar manualmente os endereços.

A Trezor disse que a implementação foi pensada como um meio de melhorar a usabilidade do acesso aos endereços de BTC. No entanto, reconheceu que subestimou a recepção negativa que a atualização teria e, portanto, voltou atrás. Nenhuma implementação similar ao AOPP está planejada.

Vitória da privacidade

O CriptoFácil conversou com Jefferson Rondolfo, criador da KriptoBR e revendedor oficial da carteira Trezor no Brasil. Rondolfo comemorou a decisão e classificou o recuo como uma vitória da privacidade dos usuários.

Segundo o empresário, o anúncio pegou a KriptoBR de surpresa e fez a empresa cogitar abandonar a revenda da marca. No entanto, o cancelamento da implementação veio como um alento.

“Ficamos desapontados de início. Do nosso lado na KriptoBR damos muito valor a privacidade, e estávamos cogitando abandonar a marca. Felizmente mais uma vez eles ouviram os consumidores e a nós e irão remover, mesmo focado a um mercado pequeno, com certeza outros governos poderiam se aproveitar dessa situação”.

Rondolfo também destacou que o BTC não é anônimo, pois todas as transações são públicas na blockchain. Contudo, o KYC seria extremamente danoso para os usuários, especialmente se os dados caíssem em mãos erradas.

Cabe destacar que nos últimos anos, diversos golpes foram aplicados usando softwares falsos da Trezor para roubar criptomoedas. Outras carteiras, como a rival Ledger, também sofreram com roubo de dados dos clientes.

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